sábado, 23 de junho de 2007

AUTOBIOGRAFIA 4 IDEM

Voz: Você vê o tom púrpura que tomou o céu?
Outra voz: Eu diria malva, é quase malva.
V.: Existe alguma diferença?
O.V.: Uma tem mais rosa.
V.: Qual?
O.V.: Qual o quê?
V.: Qual tem mais rosa?
O.V.: Eu realmente não sei.
V.: Então, como você pode...
O.V.: Soa correto, para essa cor.
V.: Você vai sempre pelo som?
O.V.: Som?
V.: O som, o...
O.V.: O que isso quer dizer "ir pelo som"?
V.: Quero dizer às vezes que começa com sons – nada além. Você persegue, você...
O.V.: Sons musicais?
V.: Não, menos articulados.
O.V.: Como os sons ao nosso redor agora?
V.: Não, como os sons ao nosso redor agora.
O.V.: Sons que não pode ouvir.
V.: Sons que não pode ouvir.
O.V.: Você escuta sons que não pode ouvir?
V.: Não.
O.V.: Não?
V.: É antes de ouvir.
O.V.: Antes de ouvir?
V.: Ouvir é atenção. Antes da atenção.
O.V.: Malva: "Púrpura delicado, violeta ou lilás".
V.: Púrpura: "Um tom de cor entre o azul e o vermelho; uma das cores usualmente chamada de violeta, lilás, malva etc."
O.V.: Não e mesmo.
V.: Não e mesmo.
O.V.: Não como mesmo.
V.: Não mesmo.
O.V.: Mesmo não mesmo.
V.: A forma está completa aos 36.
O.V.: Magenta.

Michael Palmer (Tradução: Régis Bonvicino)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

O que falamos quando falamos de amor - Raymond Carver


[...]

.....Mel derrubou seu copo. Derramou-o sobre a mesa.
.
.....- O gim se foi. - Mel disse.
.
.....Terri perguntou, "E agora?"
.
.....Eu conseguia ouvir meu coração batendo. Eu conseguia ouvir o coração de todo mundo. Eu conseguia ouvir o ruído humano que nós, sentados lá, fazíamos, nenhum de nós se movendo, nem mesmo quando a cozinha ficou escura.

terça-feira, 19 de junho de 2007

terça-feira, 5 de junho de 2007

olho muito tempo o corpo de um poema

olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas

Ana Cristina Cesar