terça-feira, 3 de julho de 2007

OS PRAZERES DA PORTA

Os reis não tocam nas portas.

Não conhecem essa ventura: fazer avançar docemente ou com rudeza um desses grandes painéis familiares, voltar-se em sua direção para recolocá-lo no lugar - ter nos braços uma porta.
... A ventura de empunhar no ventre pelo nó de porcelana um desses altos obstáculos de um cômodo; o corpo-a-corpo rápido pelo qual por um instante o passo se detém, o olho se abre e o corpo inteiro se acomoda ao seu novo aposento.
Com a mão amiga retém ainda, antes de empurrá-la decididamente e encerrar-se -
o que o estalido da mola potente mas bem azeitada agradavelmente lhe assegura.

Francis Ponge (Tradução: Adalberto Müller Jr. e Carlos Loria)