domingo, 31 de outubro de 2010

ela odeia o ócio
da poltrona ultra-moderna,
prefere o ócio da praça
do por-do-sol - ali, tem
sonhos de protesto,
a tudo - quando vê
um picho no topo
de um prédio queria
ter estado ali, queria
ter estado ali onde
j.m. basquiat m. ali
r. mapplethorpe j. genet
j. cousteau y. gagarin
às vezes, w. burroughs
(em tânger, imaginem)
- qualquer lugar, menos
a casa, qualquer pessoa
- queria ser um outro,
ela tem 17 - pensa em
liberdade o tempo todo
e tem horas que chega
a impasses  de fazer
coçar os olhos
 -  como:
uma obra de protesto
à arte num museu é
ainda obra de protesto?
(e se ela for obradearte?)
- é uma falsificação, ela
desconfia quando toma banhos
periódicos a contra-gosto,
e faz aula de escrita criativa
porque não gostam do que
escreve.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

não tem nada,
a casa quase não tem mobília,
só em algum canto um quadro:
uma praia em cabo-verde; do lado tem um skate e
um sofá sofisticado demais pra quem tem
quase só um sofá. ali, numa festa – o toca-discos
toca groundation (é incrível, uma música boa
faz parecer mais natural e gracioso: as caras
de tédio, os bicos) – umas dez pessoas,
se eu chegasse para uma delas,
ela talvez antes de saber o meu nome, diria:
“o que você fez?”, e eu: “eu escrevi
LEE está perdido, é uma peça” “sobre o que?”
“sobre um cachorro que se perde”, ela
vai soltar um aaaaaaah, e tchau,
ou pode se interessar, mas por uns segundos
porque chegou um francês que faz grafites.
eu olho pro quadro, a próxima vai se passar
em cabo verde ou numa praia qualquer -
na baleia, você vai estar nessa peça
porque não faz sentido
você não estar aqui.