sábado, 15 de dezembro de 2012

fechadas as janelas dos apartamentos
que até anteontem ocuparam - como
se ocupar fosse possível o vazio, já
não é a primeira vez que esses módulos
são sucessivamente habitados e
abandonados, só que dessa vez como
das outras, olhando as janelas pregadas
parece que é a última nunca será
porque não se pode habitar nem
abandonar o que não é nada, os
que viveram ali quando viveram
viveram em lugar nenhum não
viveram nada não deixaram nada
deixaram: as migalhas os
cigarros o cartaz da internacional
situacionista e um celular e sua
epistolografia.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012


se desse para imaginar
que vinte e três anos depois
aquela viagem pra ubatuba
seria material de uma exposição
de fotos e um livro de história
estaria numa cicatriz, num dente
perdido, na cara de um cara
de vinte e dois anos, se

                                      no fim aquela
névoa de madrugada de um verão
frio não tivesse sido névoa inconsequente
verão anárquico frio e madrugada
clandestina, ou

será que não aconteceu nada
e o que depois foi "anarquia total"
não tivesse sido só um fim de semana
nas toninhas?