terça-feira, 2 de novembro de 2010

aclimação

sem muitas idéias na cabeça
ou pelo menos se idéia um
conceito, bem pouco

tudo o que tem ali, ali estão:
uma música, um animal, uma
casa na aclimação

tudo aberto, se idéia um modo
de trocar as palavras sem no final
muito sentido, então sim

podemos dizer: tem muitas
idéias na cabeça, olhando
dali:

ela uma casa caicó
papagaio.

domingo, 31 de outubro de 2010

ela odeia o ócio
da poltrona ultra-moderna,
prefere o ócio da praça
do por-do-sol - ali, tem
sonhos de protesto,
a tudo - quando vê
um picho no topo
de um prédio queria
ter estado ali, queria
ter estado ali onde
j.m. basquiat m. ali
r. mapplethorpe j. genet
j. cousteau y. gagarin
às vezes, w. burroughs
(em tânger, imaginem)
- qualquer lugar, menos
a casa, qualquer pessoa
- queria ser um outro,
ela tem 17 - pensa em
liberdade o tempo todo
e tem horas que chega
a impasses  de fazer
coçar os olhos
 -  como:
uma obra de protesto
à arte num museu é
ainda obra de protesto?
(e se ela for obradearte?)
- é uma falsificação, ela
desconfia quando toma banhos
periódicos a contra-gosto,
e faz aula de escrita criativa
porque não gostam do que
escreve.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

não tem nada,
a casa quase não tem mobília,
só em algum canto um quadro:
uma praia em cabo-verde; do lado tem um skate e
um sofá sofisticado demais pra quem tem
quase só um sofá. ali, numa festa – o toca-discos
toca groundation (é incrível, uma música boa
faz parecer mais natural e gracioso: as caras
de tédio, os bicos) – umas dez pessoas,
se eu chegasse para uma delas,
ela talvez antes de saber o meu nome, diria:
“o que você fez?”, e eu: “eu escrevi
LEE está perdido, é uma peça” “sobre o que?”
“sobre um cachorro que se perde”, ela
vai soltar um aaaaaaah, e tchau,
ou pode se interessar, mas por uns segundos
porque chegou um francês que faz grafites.
eu olho pro quadro, a próxima vai se passar
em cabo verde ou numa praia qualquer -
na baleia, você vai estar nessa peça
porque não faz sentido
você não estar aqui.

sábado, 25 de setembro de 2010

carta do pão com manteiga


Embora não fosse minha a casa    
As primeiras frutas florescendo na
Janela tinham o mesmo cheiro.


Kenneth Rextroth

terça-feira, 7 de setembro de 2010

o professor, astor,
abriu sua mala cheia
de cachimbos, ele escreveu
um livro chamado “matemática criativa”,
que tem um nome bem bonito,
estamos em 1992, ele já ensinou
matemática pra muita gente
agora não ensina mais,
me lembro que era
um pouco doidão,
como tudo em
1992.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

exposição de ana b.

são quatro fotos:
uma um quadrado
azul e uma mancha
azul; uma paisagem -
as quatro são paisagens;
uma uma mancha azul
num fundo de outra
cor; a última a fotógrafa,
ana b.
essa também uma paisagem
e uma mancha

ana b., vinte anos revela
que suas influências são:
shoegazing, ollie-air,
pina baush

ela acende um
cigarro, atrás
a janela dá pra ver
o Pacaembu, e

se a noite fosse uma
década, ana b. era de
papel de arroz.

domingo, 9 de maio de 2010

curta

z. larga a garrafa e
põe marc ribot
y los cubanos postizos
no toca-cedês acende
um basê de olhos
fechados diz eu queria
dan-çar, sabe?

abre os olhos vermelho
é a cor da felicidade
em copo old-fashioned.

domingo, 11 de abril de 2010

o que sobrou tem a cor
do gim com campari
e uma rodela de laranja
do diâmetro de um sol
que cabe num copo,
das suas mãos abertas
depois de esfregar
os olhos de sono
que é a mesma
da pétala de violeta
guardada no meio de
nove estórias –j.d.salinger
-editora do autôr-1975,
vinte anos depois.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

algumas notícias
de lá: chove forte
mais uma vez
em são paulo/
b. avisa que a
baleia segue viva/
ela diz que não
vem mas que
gostaria muito
de vir/j.b. me
pede pra mandar
notícias (eu mando)/
a.a. está no paraguay/
de você soube
sem querer que
está no deserto
do atacama,
espero todas com
muita apreensão
às vezes é como
estar-lá,
no deserto.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

cartão-postal


um homem
com a tatuagem
de um lagarto tosco
só linhas mas
muito bonito
nas costas ele
vive na
na praia
da brava e
me disse

estive lá em
sãopaulo é
muito fácil
se perder
eu
dei o fora
antes que
perdesse
tudo
.

[picho "samo" - jm basquiat]






terça-feira, 26 de janeiro de 2010

em todos os lugares que estivemos
alguns apertados duros cansados
às vezes num café na beira
da praia dos ossos, paralelos aos fios
elétricos do trem metropolitano e
dentro e fora na casa de um amigo
que não estava bem das pernas
em festas tristes cheias de pose
sentados lendo aqui e ali você
sempre ali e eu aqui você nunca
leu o cléo e daniel que eu te dei
já li uns livros muito bons
alguns ruins também
nenhum como estar-ali
onde você sempre
está.
 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010



todos os meus amigos,
você também
mesmo os fugazes
e os que já não,
o que virou flores
no quadro do max ernest
era meu amigo,
todos eles
e você
à noite em sãopaulo
o som e o som
da cidade é o som
da voz de
todos os meus amigos.

[quadro de wesley duke lee]

domingo, 10 de janeiro de 2010


ver e estar ali
onde você também
é muito bom
porque muita gente
vaievém
é ano novo
e todo mundo
parece saber
até o cão, menos eu
e então tá todo mundo
indo, eu não
até que você diz:
vem aqui,
eu vou e você está
com uma garrafa de
alguma coisa
pretende ir pro mar
a qualquer momento
e tem planos
não pro ano
mas você quer nadar
quando o dia viér
e ir até ali
e então nós vamos
e é muito bom
mesmo.

[quadro de max ernest / rendezvous of friends - the friend become flowers]