segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Eric Rohmer


"eles [os personagens de Eric Rohmer] confrontam a aparente liberdade de seus atos com a exigência de sua moral e se buscam em alguma parte entre a fé cristã, a aposta pascaliana, a certeza matemática e a tentação libertina"

Jean-Loup Passek, Dictionnaire du Cinema Français

domingo, 12 de agosto de 2007

L'Avventura, de Michelangelo Antonioni


Gradualmente, Claudia move sua cabeça na direção de Sandro. Seus olhos estão cheios de lágrimas. Ela o olha como se ele fosse alguém que a fizera sofrer muito. Ela se aproxima do banco onde ele está sentado. Sandro não se move nem um centímetro. Cláudia estende a mão na direção de Sandro, e, devagar, gentilmente, e com um aterrador senso de desespero, ela acaricia o seu cabelo. FIM.

Barthes/Antonioni


Penso em Matisse desenhando uma oliveira, de sua cama e, ao cabo de certo tempo, observando os vazios existentes entre os galhos, para descobrir que, com essa nova visão, escapava à imagem habitual do objeto desenhado, ao clichê "oliveira".Matisse descobria assim o princípio da arte oriental, que quer sempre pintar o vazio, ou melhor, que capta o objeto figurável no momento raro em que o pleno de sua identidade cai bruscamente num novo espaço, o do Interstício.De certa maneira, sua arte também é uma arte do Interstício ("A Aventura" seria a demonstração cabal dessa afirmação), portanto, de certa maneira também, sua arte tem alguma relação com o Oriente.
[...]

Caro Antonioni, tentei dizer com minha linguagem intelectual as razões que fazem de você, para além do cinema, um dos artistas de nosso tempo. Esse cumprimento não é simples, você sabe, pois ser artista hoje é uma situação não mais sustentada pela bela consciência de uma grande função sagrada ou social; já não é assumir, serenamente, um lugar no Panteão burguês dos Luminares da Humanidade; é, no momento de cada obra, precisar enfrentar em si mesmo os espectros da subjetividade moderna -pois já não se é sacerdote-, que são o desalento ideológico, a consciência social pesada, a atração e a aversão pela arte fácil, o tremor da responsabilidade, o incessante escrúpulo que dilacera o artista entre a solidão e o gregarismo. Cabe-lhe hoje, portanto, aproveitar este momento tranqüilo, harmonioso, reconciliado, em que toda uma coletividade está de acordo no reconhecimento, na admiração, no amor à sua obra. Pois amanhã recomeça o trabalho duro.

Roland Barthes sobre Michelangelo Antonioni