quinta-feira, 14 de outubro de 2010

não tem nada,
a casa quase não tem mobília,
só em algum canto um quadro:
uma praia em cabo-verde; do lado tem um skate e
um sofá sofisticado demais pra quem tem
quase só um sofá. ali, numa festa – o toca-discos
toca groundation (é incrível, uma música boa
faz parecer mais natural e gracioso: as caras
de tédio, os bicos) – umas dez pessoas,
se eu chegasse para uma delas,
ela talvez antes de saber o meu nome, diria:
“o que você fez?”, e eu: “eu escrevi
LEE está perdido, é uma peça” “sobre o que?”
“sobre um cachorro que se perde”, ela
vai soltar um aaaaaaah, e tchau,
ou pode se interessar, mas por uns segundos
porque chegou um francês que faz grafites.
eu olho pro quadro, a próxima vai se passar
em cabo verde ou numa praia qualquer -
na baleia, você vai estar nessa peça
porque não faz sentido
você não estar aqui.

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